Por permanência escolar e contra o avanço do neoliberalismo na educação!
Por Jonas Broetto* e Sidarta Landarini*
Hoje, 11 de Agosto, é comemorado o Dia do Estudante. Mas, o que de fato comemoramos? Por um lado, o movimento estudantil tem uma importância ímpar para a história do nosso país. Por exemplo, podemos realizar o exercício de rememoração dos nossos estudantes que bravamente lutaram contra a ditadura militar, que estiveram presentes nos movimentos pelo impeachment de Collor em 1992, na primavera secundarista ocupando as escolas em 2016, e em diversos outros movimentos por direitos ao longo dos anos. As justas lutas estudantis, infelizmente, não saem vitoriosas sempre, muitas vezes somos derrotados por aqueles que querem tratar a educação como mercadoria, que almejam que a população pobre não tenha direito a uma educação pública de qualidade, pois permitir acesso de todos ao conhecimento pode gerar concorrência para os filhos da burguesia. O setor privado existe, inclusive, para manter a estrutura desigual de privilégios.
Por isso, é necessário falar nesse 11 de agosto sobre o acesso e a permanência da juventude na universidade e escola públicas em nosso país. O cenário atual é construído para manter a lógica da desigualdade. Vejamos: está mais do que provado que, para a entrada na universidade pública, via vestibulares ou ENEM, funciona uma lógica meritocrática, que, como sabemos, é uma falácia. Pessoas com poder aquisitivo maior conseguem dedicar tempo de estudo, além de terem recursos para pagar cursinhos pré-vestibulares e escolas secundárias e primárias superiores às públicas, o que as coloca em um patamar à frente da maior parte da população trabalhadora que vive na pobreza. Reforça-se assim o sistema de injustiça social. Também não é suficiente somente o livre acesso às universidades com o fim do vestibular. A questão da permanência nesses casos é fundamental para permitir a conclusão do curso. Para isso, devemos lembrar da categoria das pessoas que tentam conciliar o tempo de estudo com o trabalho (muitos com jornadas extensas, precários e informais), portanto, a defesa do passe livre, garantia de moradia estudantil e de RU’s com a oferta de todas as refeições com qualidade são fundamentais para garantir a permanência dos trabalhadores e estudantes.
Reformas como a do Novo Ensino Médio e a do arcabouço fiscal de Haddad e Lula vão na contramão dos interesses da classe trabalhadora e estudante. Reforçam a lógica mercantilizada de um direito que deveria ser livre e igualmente distribuído a todos, a educação. Enfraquecem o poder público para atender ao interesse de parcelas da burguesia que financiaram determinadas campanhas eleitorais. Por isso, a entidade representativa dos estudantes, a UNE, não pode ser apenas um aparato de submissão às medidas do governo federal. Setores antigamente combativos caem no canto da sereia. Iludem-se com a suposta necessidade de, a pretexto do enfrentamento à extrema direita, ceder à direita moderada. Aliam-se então a setores burocratizados da institucionalidade ao invés de construírem a luta de maneira independente.
Outra discussão que a esquerda precisa ter coragem de fazer, que era inimaginável alguns anos atrás, é sobre a segurança dos nossos estudantes e trabalhadores da educação. Os quatro anos de Bolsonaro no poder foram marcados pelo avanço do sucateamento e da mercantilização da educação no Brasil, com cortes orçamentários, ataques aos/ às profissionais e estudantes [1]. Esse governo também foi responsável pelo avanço e consolidação da extrema direita no país, o que se refletiu negativamente em diversos aspectos da sociedade. Um deles referente ao aumento de grupos extremistas supremacistas, com atuação principalmente na internet, em fóruns virtuais. Só entre outubro de 2022 a março de 2023 houve 22 ataques às escolas [2], que já sofrem de precariedade, baixos salários e problemas relacionados à segurança de alunos/as e trabalhadores/as.
Medidas como “armamento dos professores”, “salas de aulas blindadas”, “policiais nas escolas” são defesas copiadas do modelo falido da sociedade estadunidense, responsável, inclusive, por disseminar essa ideologia macabra, às custas de uma maliciosa interpretação do que seria a “liberdade de expressão”. Na verdade, o que há é a falta de regulamentação da Internet e a ausência de combate a grupos de extrema direita no país. O governo brasileiro não pode, de forma alguma, fazer eco a tais vozes e se submeter a essa lógica imperialista, que visa apenas o crescimento da indústria bélica e de uma política neoliberal pautada na morte e no sangue. É urgente a construção de uma saída autônoma, independente, e profundamente, séria para pensar políticas públicas de combate à extrema direita, ao discurso de ódio, e de combate ao bullying e a outras mazelas que propiciam tal cenário de desamparo socioeconômico e emocional para os jovens que se veem atraídos para os discursos desumanizantes.
Gostaríamos neste 11 de agosto de somente celebrar o dia dos estudantes e comemorar conquistas. Diante do capitalismo, é necessário que a nossa luta seja permanente em todas as esferas da sociedade. Luta por direitos tomados de nós, por direitos nunca conquistados e pela superação desse sistema tão sujo e desigual.
[1] -Cortes na educação de Bolsonaro.
[2] - Ataques nas escolas
Jonas Broetto é da Coordenação Nacional do Ecoar e militante da Rebelião Ecossocialista
Sidarta Landarini é Cientista Social, doutorando em antropologia no PPGSA/UFRJ e em música na UA, militante da Rebelião Ecossocialista.
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