I. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A FRENTE ÚNICA
1. A tarefa do Partido Comunista é a de dirigir a revolução proletária. A fim de orientar o proletariado na sua conquista direta do poder, o Partido Comunista deve se embasar na predominante maioria da classe trabalhadora.
Enquanto o Partido não contar com essa maioria, deve lutar para alcançá-la. O Partido só pode alcançar este objetivo se for uma organização absolutamente independente, com um programa claro e uma estrita disciplina interna. Isso porque o Partido teve que romper organizativa e ideologicamente com os reformistas e os centristas que não lutam pela revolução proletária, que não têm o desejo de preparar as massas para a revolução e que, com sua conduta, limitam essa tarefa. Os membros do Partido Comunista que se aliaram em seu rompimento com os centristas em nome “das massas proletárias” ou da “unidade de frente” estão demonstrando sua incompreensão do ABC do Comunismo, e estão na fileiras do Partido Comunista apenas por acidente.
2. Assim que assegurar uma completa independência e homogeneidade ideológica de seus quadros, o Partido Comunista lutará por influenciar a maioria da classe operária. Esta luta pode assumir um caráter rápido ou lento, que depende das condições objetivas e da eficácia da tática seguida.
Mas é bem evidente que o cotidiano de classe do proletariado não se detém a esse período preparatório para a revolução. Os choques com os industriais, com a burguesia, com o aparato de Estado, respondendo sejam as iniciativas de um setor ou de outro, seguem seu curso.
Nestes choques, que envolvem os interesses do conjunto do proletariado, ou de sua maioria, ou de um ou outro setor, as massas operárias sentem a necessidade de uma unidade de ação: de unidade para resistir ao ataque do capitalismo, ou da unidade para tomar a ofensiva em resposta. Todo Partido que se oponha mecanicamente a esta necessidade do proletariado de unidade na ação será condenado inevitavelmente pelos operários.
Por outro lado, a questão da Frente Única não é, nem em sua origem nem em sua essência, uma questão de relações mútuas entre a fração parlamentar comunista e a socialista, ou entre os Comitês Centrais de ambos Partidos, ou entre
“L´Humanité” e “Le Populaire”. O problema da Frente Única – apesar do fato de ser inevitável uma separação nessa época entre as organizações políticas que se embasam no voto – surge da necessidade urgente de assegurar à classe operária a possibilidade de uma Frente Única na luta contra o capitalismo.
Para aqueles que não compreendem que todo Partido isolado é uma sociedade
propagandística e não uma organização para a ação das massas.
3. Nos casos em que o Partido Comunista ainda permanece como uma organização composta por uma minoria numericamente insignificante, a questão de sua conduta na frente de luta de massas não assume um significado político e organizativo decisivo. Em tais condições, as ações de massas permanecem dirigidas pelas velhas organizações que continuam cumprindo um papel decisivo em virtude de sua tradição ainda poderosa.
Por outro lado, o problema da Frente Única não surge nos países onde – Bulgária, por exemplo – o Partido Comunista é o único dirigente das massas exploradas.
Mas onde quer que o Partido Comunista constitua-se como uma força política poderosa e organizada, mas não de uma magnitude decisiva – ali onde o Partido abarque organizativamente, digamos, uma quarta parte, uma terceira e ainda uma proporção maior da vanguarda proletária organizada – o problema da Frente Única se coloca em toda a sua agudeza.
Se o Partido conta com uma terceira parte ou a metade da vanguarda proletária,
logo, o resto deverá estar organizado pelos reformistas e os centristas. É bem evidente que os operários que ainda apoiam os reformistas e centristas se interessam vivamente por manter níveis de vida mais elevados e a maior liberdade
de ação que seja possível. Em conseqüência, devemos projetar nossa tática a evitar que o Partido Comunista, que no futuro próximo abarcará os três terços do proletariado, se converta em um obstáculo organizativo no caminho da luta proletária atual.
Mais ainda, o Partido deve assumir a iniciativa de assegurar a unidade da luta
presente. Somente assim o Partido se aproximará destes dois terços que ainda não
seguem sua direção, que ainda não confiam nela porque não a compreendem.
Apenas desta maneira pode o Partido ganhá-los.
Se o Partido Comunista não tivesse rompido drasticamente e de forma irreconciliável com os social-democratas, não se teria convertido no Partido da revolução proletária. Não poderia ter dado os primeiros passos sérios no caminho da revolução. Teria permanecido como uma válvula parlamentar de segurança sob o Estado burguês.
Quem não compreende isso, não conhece a primeira letra do ABC do Comunismo.
4. Se o Partido não procurasse construir um caminho organizativo, que possibilitasse em qualquer momento ações coordenadas conjuntas entre as massas comunistas e as nãocomunistas (incluindo as que apoiam a socialdemocracia), deixaria clara sua incapacidade de ganhar – sobre a base de ações de massas – a
maioria do proletariado. Degeneraria-se numa Sociedade de propaganda comunista, nunca se desenvolveria como um Partido que luta pela conquista de poder.
Não é suficiente contar com uma espada, ela deve estar afiada; não é suficiente que esteja afiada: é preciso saber usá-la.
Depois de separar os comunistas dos reformistas, não é suficiente fundir os
comunistas entre si através da disciplina organizativa; é necessário que essa organização aprenda a guiar todas as atividades coletivas do proletariado em todas as esferas da luta de classes.
Esta é a segunda letra do ABC do Comunismo.
DIRIGENTES REFORMISTAS NO INTERIOR DA FRENTE ÚNICA
5. A Frente Única abrange apenas as massas trabalhadoras ou inclui também seus dirigentes oportunistas?
O simples fato de fazer essa pergunta demonstra em si uma incompreensão do
problema.
Se pudéssemos simplesmente unir o proletariado em torno da nossa bandeira ou ao
redor de nossas consignas práticas, e passar por cima das organizações reformistas, tanto de partidos quanto de sindicatos, logicamente, isto
seria o melhor dos mundos. Nesse caso, o problema da Frente Única não existiria em sua forma atual.
A questão surge porque alguns setores muito importantes do proletariado pertencem a organizações reformistas ou as apoiam. Sua experiência atual é muito insuficiente para permitir-lhes que as abandonem e que se unam a nós. É precisamente a partir da intervenção naquelas atividades de massas que estão na
ordem do dia, que se produzirá uma grande mudança na situação.
É isso que buscamos. Mas os fatos ainda não tem essas características: atualmente, o setor organizado do proletariado está dividido em três agrupamentos.
Um deles, os comunistas, tem como objetivo a revolução social e precisamente por
isso apoia todo movimento dos explorados contra seus exploradores e contra o Estado burguês.
Outro grupo, dos reformistas, persegue a conciliação com a burguesia, mas não querendo perder sua influência sobre os operários, é empurrada, contra os próprios desejos de seus dirigentes, a apoiar os movimentos parciais do
proletariado contra a burguesia.
Finalmente, existe um terceiro grupo: os centristas, que vacilam constantemente entre os dois, e não tem uma atuação independente.
As circunstâncias, portanto, tornam completamente possíveis as ações conjuntas a
respeito de uma série de questões vitais entre os trabalhadores unidos em torno dessas três organizações respectivamente, e as massas organizadas que as apóiam.
Os comunistas, como já dissemos, não só não devem se opor a tais ações como, pelo contrário, devem assumir a iniciativa, precisamente pela razão de que quanto mais sejam impulsionadas as massas para o movimento, maior será a sua confiança em si mesma, o movimento terá mais confiança nele mesmo e será mais capaz de marchar decididamente adiante, não importa quão modesta seja a consigna inicial da luta. E isto significa que o crescimento do conteúdo de massas do movimento o faz revolucionário e cria condições muito mais favoráveis para as consignas, métodos de luta e, em geral, para um papel dirigente do Partido Comunista.
Os reformistas temem o potente espírito revolucionário das massas; suas arenas mais apreciadas são a tribuna parlamentar, os gabinetes dos sindicatos, das cortes de justiça e as ante-salas dos ministérios.
Ao contrário, o que nos interessa, além de toda outra consideração, é tirar os reformistas de seu paraíso e colocá-los ao nosso lado diante das massas. Usando uma tática correta, só podemos vencer. O comunista que duvida ou teme isto, parece aquele nadador que conhece na teoria o melhor modo de nadar, mas que não quer arriscar-se a mergulhar.
6. A unidade de frente pressupõe então, dentro de certo limites e em torno a questões específicas, correlacionar na prática nossas ações com a de organizações reformistas, diante daquilo em que, ainda hoje, elas expressem a vontade de importantes setores do proletariado combativo.
Mas, afinal de contas, não nos separamos ontem deles? Sim, porque não estávamos de acordo em questões fundamentais do movimento operário; e apesar disso buscamos acordos com eles? Sim, em todos aqueles casos em que as massas que os seguem estão dispostas a ligar-se em uma luta conjunta com as massas que nos seguem, e quando os reformistas em um maior ou menor grau, são empurrados a transformarem-se em um órgão dessa luta.
Mas não dirão que mesmo depois de nos separarmos deles, ainda os necessitamos? Sim, seus charlatães poderiam dizer isso. Aqui e ali alguns elementos de nosso Partido podem se assustar com isso. Porém, no que diz respeito ao conjunto das massas proletárias – ainda aquelas que não nos seguem e que ainda não compreendem o objetivo que perseguimos, mas que vêem duas ou três organizações operárias conduzindo numa existência paralela – estas massas chegarão à seguinte conclusão de nossa conduta: que apesar de toda divisão, estamos fazendo todo o possível para facilitar a unidade de ação para as massas.
7. A política que tende a assegurar a Frente Única, claro que não inclui garantias de que a unidade de ação será alcançada em todos os seus pontos. Pelo contrário, em muitos casos, e talvez na maioria deles, os acordos organizativos serão alcançados parcialmente ou não serão alcançados. Mas é necessário que as massas em luta tenham sempre a possibilidade de se convencer de que a impossibilidade de conseguir a unidade de ação não foi por conta de nossa política irreconciliável, mas sim pela falta de uma vontade real de luta por parte dos reformistas.
Ao entrar em acordos com outras organizações, naturalmente assumimos certa
disciplina na ação. Porém esta disciplina não pode ser absoluta. No momento em que os reformistas comecem a frear a luta, em detrimento do movimento, e a atuar contra a situação e a vontade das massas, nós, como organização independente sempre nos reservaremos o direito de dirigir a luta até o fim, e isto sem nossos semi-aliados temporários.
Isto pode dar início a uma nova agudização da luta entre nós e os reformistas.
Contudo, esta já não implicará numa simples repetição de um conjunto de idéias dentro de um círculo fechado, mas sim significará – se nossa tática for correta – a extensão de nossa influência sobre setores novos e frescos do proletariado.
8. Só é possível ver na nossa tática uma reconciliação com os reformistas do ponto de vista do jornalista que pensa que se afasta do reformismo criticando-o ritualmente, sem sequer abandonar seu escritório de redação, que teme chocar com o reformismo diante das massas, e teme dar a estas a oportunidade para
colocar aos comunistas e reformistas num mesmo plano da luta de classes. Neste aparente temor revolucionário à “reconciliação”, reside em essência uma passividade política que busca perpetuar um estado de coisas no qual os
comunistas e os reformistas têm cada um suas esferas de influência rigidamente demarcadas, seu próprio público nos comícios, sua própria imprensa, e que tudo isto crie a ilusão de uma séria luta política.
9. Rompemos com os reformistas e centristas a fim de obter uma completa liberdade de criticar a deslealdade, a traição, a indecisão e o espírito passivo no seio do movimento operário. Por essa razão, toda classe com acordo organizativo que limite nossa liberdade de crítica e de agitação é completamente inaceitável para nós.
Participamos da Frente Única, mas em nenhum instante nos diluímos nela. Atuamos na Frente Única como um grupo independente. É precisamente no curso da luta que o conjunto das massas deve aprender por experiência que nós lutamos melhor que os demais, que vemos melhor, que somos mais audaciosos e decididos. Desta forma, nos aproximamos cada vez mais da conquista da Frente Única revolucionária, sob a indiscutível direção comunista.
II. SETORES NO MOVIMENTO PROLETÁRIO FRANCÊS
10. Se nos propusermos a analisar o problema da Frente Única e sua aplicação na França, se abandonar o terreno destas teses, que surgem do conjunto da linha política da Internacional Comunista, devemos então perguntar-nos: nos
encontramos na França com uma situação na qual os comunistas representam, desde o ponto de vista da ação prática, uma magnitude insignificante? Ou, pelo contrário, abarcam a grande maioria dos trabalhadores organizados? Ou por um acaso ocupam uma posição intermediária? São suficientemente fortes para que a sua participação no movimento de massas a reverta a maior importância, mas não fortes o bastante para concentrar em suas mãos a direção?
É bastante claro que nos encontramos diante do terceiro caso.
11. Na esfera partidária, o predomínio dos comunistas sobre os reformistas é enorme. A organização e a imprensa comunistas superam muito a imprensa dos chamados socialistas, tanto em tiragem quanto em riqueza e vitalidade.
Esta manifesta preponderância, entretanto, longe de assegurar ao Partido Comunista Francês a direção indiscutível do proletariado francês, não conseguiu até agora, principalmente porque o proletariado está influenciado poderosamente por tendências e preconceitos antipolíticos e antipartidários, alimentados principalmente pelos sindicatos.
12. A particularidade sobressalente do movimento operário francês consiste nisso, em que os sindicatos serviram por muito tempo como uma cobertura para um Partido político do particularismo, anti-parlamentar e que leva este nome: sindicalismo. Ainda que os sindicalistas revolucionários possam tratar de delimitar sua atuação da política ou de um Partido, não podem refutar o fato de que eles mesmos constituem um Partido político, que busca basear-se nas organizações sindicais do proletariado. Este Partido tem suas próprias tendências revolucionárias positivas, mas também seus próprios aspectos sumariamente negativos: a falta de um programa genuíno e definitivo e de uma organização constituída. A organização dos sindicatos não corresponde em absoluto à organização do sindicalismo. No
sentido organizativo, os sindicalistas representam um núcleo político amorfo injetado nos sindicatos.
O problema se complica ainda mais pelo fato de que os sindicalistas, como todos os outros grupos no proletariado, se dividiram desde a guerra em duas partes: os reformistas, que apoiam à burguesia e portanto se inclinam à colaboração estreita com os reformistas parlamentares, e o setor revolucionário, que está buscando o caminho para esmagar seu adversário e está se movimento, nas pessoas de
seus melhores elementos, para o comunismo.
É precisamente esta urgência de preservar a unidade (de classe) de frente que
inspirou não só aos comunistas mas também aos sindicalistas revolucionários, à tática absolutamente da luta pela unidade da organização sindical do proletariado francês. Por outro lado, com o instinto de traidores que faz com que saibam que diante das massas não podem – na ação, na luta – se enfrentarem com a ala revolucionária, Jouhaux, Merrhaim e companhia, tomaram o caminho da cisão. A
luta absolutamente importanet que envolve atualmente o conjunto do movimento sindical francês, a luta entre reformistas e revolucionários, constitui para nós ao mesmo tempo uma luta pela unidade da organização dos sindicatos e da Frente Única Sindical.
III. O MOVIMENTO SINDICAL E A FRENTE ÚNICA
13. O comunismo francês enfrenta uma situação sumariamente importante no que diz respeito à idéia da Frente Única. Na estrutura da organização política, o comunismo francês triunfou ao conquistar a maioria do velho Partido Socialista, com o qual os oportunistas agregaram a toda sua lista anterior de adjetivos
o de “dissidentes”, ou seja, divisionistas. Nosso Partido se serviu desta expressão no sentido de que implantou a designação de divisionistas às organizações social-reformistas francesas, dando assim à vanguarda a certeza de que os reformistas são destruidores da unidade de ação e da unidade de organização.
14. No campo do movimento sindical, a ala revolucionária e sobretudo os comunistas, não podem ocultar, nem tampouco seus adversários, o quão profundas são as diferenças entre Moscou e Amsterdam – diferenças que de modo
algum são simples sombras que obscurecem o panorama do movimento operário, sim um reflexo do profundo conflito que comove à sociedade moderna, além, especialmente, do conflito entre a burguesia e o proletariado. Mas ao mesmo tempo, a ala revolucionária, ou seja, antes de tudo e principalmente os conscientes elementos comunistas, nunca propugnaram a tática de abandonar os sindicatos ou de dividir as organizações sindicais. Tais consignas são características de grupos sectários, de “localistas”, KAPD, certos grupinhos “libertários” de anarquistas na França, que nunca tiveram influência no âmbito do proletariado, que não
tentam nem aspiram a conquistar essa influência, mas que se contentam com
pequenas seitas próprias e com congregações rigidamente demarcadas. Os elementos verdadeiramente revolucionários entre os sindicalistas franceses, sentiram instintivamente que a classe trabalhadora pode ser ganha na arena do movimento sindical apenas se se enfrentam o ponto de vista e os métodos revolucionários com os dos reformistas, no terreno da ação de massas, preservando ao mesmo tempo o mais alto grau possível de unidade na ação.
15. O sistema de frações nas organizações sindicais, adotado pela ala revolucionária, significa a forma de luta mais natural para a influência ideológica para a unidade da frente, sem perturbar a unidade da organização.
16. Tal como os reformistas do Partido Socialista, os reformistas do movimento sindical tomaram a iniciativa para a cisão. Mas se deve antes de tudo à experiência do Partido Socialista, que lhes fez ver claramente que o tempo avançava a favor dos comunistas, e que a única forma de contra-atacar essa influência era forçando uma divisão. Por parte do grupo dirigente da CGT, podemos ver todo um sistema de medidas para desorganizar a ala esquerda, para privá-la daqueles diretos que os sindicatos lhes dão e, finalmente, através da expulsão aberta – contra todo o estatuto e regulamento de forma a colocá-la formalmente fora dos sindicatos.
Por outro lado, temos à ala revolucionária lutando para defender seus direitos no terreno das normas democráticas das organizações operárias, e resistindo com toda a sua força à cisão implantada desde cima, convocando a base à unidade da organização sindical.
17. Todo o operário francês consciente deve saber que quando os comunistas eram uma sexta parte, ou uma terceira parte do Partido Socialista, não tentaram separar-se, pois tinham absoluta certeza de que a maioria do Partido os seguiria em um futuro próximo. Quando os reformistas se viram reduzidos a uma terceira
parte se separaram, carentes de esperanças em ganhar a maioria da vanguarda proletária.
Todo operário francês consciente deve saber que quando os elementos revolucionários tiveram que enfrentar o problema sindical, apesar de serem neste momento uma minoria insignificante, buscaram uma saída na forma do trabalho nas organizações de base, pois estavam convencidos que a experiência da luta nas condições de uma época revolucionária empurraria em seguida à maioria dos
trabalhadores organizados para o programa revolucionário. Quando os reformistas,
entretanto, perceberam o crescimento da ala revolucionária nos sindicatos, acudiram imediatamente ao método da expulsão e da divisão.Daqui podemos tirar conclusões da maior importância: Primeiro, a enorme profundidade das
diferenças que refletem, como já dissemos, a contradição entre a burguesia e o proletariado, foi clarificada.
Segundo, o “democratismo” hipócrita dos opositores da ditadura fica desnudado até as raízes, principalmente quando os cavalheiros não se inclinam a tolerar, não só na estrutura do Estado mas também na estrutura das organizações operárias, os métodos democráticos. Onde quer que essas organizações operárias se voltam contra eles, as abandonam, tal como os dissidentes no Partido, ou expulsam aos demais como faz a camarilha de Jouhaux Desmoulins. É monstruoso supor que a
burguesia poderia permitir que a luta contra o proletariado chegasse a uma decisão dentro de uma estrutura democrática, quando até os agentes da burguesia nos sindicatos e nas organizações políticas se opõem a resolver as questões do movimento operário através da base das normas da democracia proletária,
adotadas voluntariamente por eles.
18. A luta pela unidade da organização operária e da ação sindical seguirá sendo, no futuro, uma das tarefas mais importantes do Partido Comunista, não só uma luta no sentido de empurrar constantemente até a unidade de grandes setores operários em torno do programa e tática dos comunistas, mas também no sentido de que o Partido Comunista – no caminho até a realização deste objetivo – tanto de forma direta como através dos comunistas nos sindicatos, se esforça por meio da ação, por reduzir a um mínimo os obstáculos que são as divisões para o movimento operário.
Se apesar de nossos esforços por restabelecer a unidade, a divisão na CGT se
afirma sem remédio num futuro imediato, isso não significa absolutamente que a “CGT Unitaire”, sem ter em conta se metade ou mais da metade dos trabalhadores organizados se unirão a ela no próximo período, deve levar adiante sua tarefa ignorando simplesmente a existência da CGT reformista. Uma política desta
natureza significaria dificuldades ao extremo, e até excluiria a possibilidade de realizar ações coordenadas do proletariado, e ao mesmo tempo facilitaria ao máximo a possibilidade de que a CGT reformista cumprisse, em benefício da
burguesia, o papel de “Ligue Civique” diante das greves, manifestações, etc.; e ao mesmo tempo daria à CGT reformista uma espécie de justificativa, ao argumentar que a CGT Unitaire provoca ações inoportunas, e que deve carregar toda a responsabilidade por elas. É bem evidente que em todos os casos onde as circunstâncias o permitirem à CGTU revolucionária, esta iniciará uma campanha quando considere necessária, dirigindo-se abertamente à CGT reformista com
propostas e demandas para um plano concreto de ações coordenadas, e obrigá-la a sofrer a pressão da opinião pública proletária, expondo ante tal opinião pública cada um dos passos incertos e evasivos dos reformistas.
Ainda no caso de que a divisão na organização sindical seja um fato, os métodos de luta pela Frente Única conservaram todo seu significado.
19. Podemos, portanto, estabelecer que em relação ao o setor mais importante do
movimento operário – os sindicatos – a tática da Frente Única exige que os métodos com que levamos adiante a luta contra Jouhaux e companhia, sejam aplicados de forma mais consistente e com mais persistência e decisão do que nunca.
IV. A LUTA POLÍTICA E A FRENTE ÚNICA
20. No plano do Partido, existe uma grande diferença com os sindicatos; a preponderância do Partido Comunista sobre o Partido Socialista é enorme. Portanto, é possível supor que o Partido Comunista como tal é capaz de assegurar a unidade da frente política, e que por conseguinte não há razões que o empurrem a dirigir-se à organização dos dissidentes com propostas para ações concretas. Esta questão, a ser pleiteada em uma estrita forma legista, baseada em relação de forças e não em um radicalismo verbal, deve ser apreciada como merece.
21. Quando consideramos que o Partido Comunista conta com 130.000 membros
enquanto os socialistas tem 30.000, os êxitos enormes da idéia comunista na França se fazem evidentes. Por outro lado, se consideramos a relação entre esses números e a força numérica do proletariado em seu conjunto e a existência de sindicatos reformistas, além da existência de tendências anti-comunistas nos sindicatos revolucionários, então a questão da hegemonia do Partido Comunista no movimento operário se apresenta como uma tarefa muito difícil, ainda longe de resolver-se com nossa preponderância numérica frente aos dissidentes.
Estes últimos podem, sob outras condições, constituir um fator contra-revolucionário muito mais importante dentro do proletariado do que poderia parecer quando se julga somente através da debilidade de sua organização e a insignificância da tiragem e do conteúdo ideológico de seu órgão, “Le Populaire”.
22. A fim de apreciar a situação, é preciso dar uma síntese clara de seu desenvolvimento. A transformação da maioria do velho Partido Socialista em Partido Comunista se produziu como resultado de uma onda de insatisfação e resulta engendrada pela guerra em todos os países da Europa. O exemplo da Revolução Russa e as consignas da Terceira Internacional indicaram o caminho para sair desta situação.
Contudo, a burguesia pôde sustentar-se no período de 1919-20 e pôde, através de medidas combinadas, estabelecer um certo equilíbrio baseado nos cimentos do pós-guerra, equilíbrio que foi socavado pelas mais terríveis contradições e que conduz a grandes catástrofes, mas que provém de certa estabilidade no momento, e por um período muito imediato. A Revolução Russa, superando as maiores dificuldades criadas pelo capitalismo mundial, foi capaz de levar à cabo suas tarefas socialistas apenas de forma gradual, as custas de uma extraordinária drenagem de todas as suas forças.
Como resultado disso, o fluxo inicial das tendências revolucionárias deu lugar a um refluxo. Somente os setores mais decidido, audazes e jovens do proletariado mundial permaneceram sob a bandeira do comunismo. Isso naturalmente não significa que os amplos setores do proletariado que se desiludiram nas suas esperanças de uma revolução imediata, de rápidas transformações radicais, etc., voltaram em conjunto a suas antigas posições do pré-guerra. Não, sua insatisfação é mais profunda do que nunca, seu ódio a seus exploradores mais agudo. Mas ao mesmo tempo, se encontram politicamente desorientados, não vêem o caminho da luta e, assim, permanecem passivamente na expectativa, criando a possibilidade de agudas oscilações para um ou outro lado, de acordo com como se apresenta a situação. Esta grande reserva de elementos passivos e desorientados pode, sob determinadas circunstâncias, ser utilizada pelos divisionistas contra nós.
23. Para apoiar o Partido Comunista, é necessário ter fé na causa revolucionária, ser leal e ativo. Para apoiar aos dissidentes, são necessárias e suficientes a desorientação e a passividade. É absolutamente natural que o setor revolucionário e ativo do proletariado recrute de suas fileiras uma proporção muito maior de membros para o Partido Comunista do que é capaz de prover o setor passivo e
desorientado para o Partido dos divisionistas. O mesmo se pode dizer da imprensa. Os elementos indiferentes lêem pouco. A insignificância da circulação e conteúdo de “Le Populaire” reflete as condições de um setor do proletariado. O fato de que haja uma ascendência dos intelectuais profissionais sobre os trabalhadores no Partido dos divisionistas não contradiz em absoluta nossa análise; que o proletariado passivo e parcialmente desiludido, parcialmente desorientado, serve,
especialmente na França, de fonte de alimento para camarilhas políticas formadas por advogados e jornalistas, curandeiros reformistas e charlatães parlamentares.
24. Se contemplamos a organização do Partido como um exército ativo e às massas proletárias desorganizadas como as reservas, e se garantimos que nosso exército ativo é três ou quatro vezes mais poderoso que o exército ativo dos divisionistas, então, sob uma dada combinação de circunstâncias, as reservas podem se dividir entre nós e os socialreformistas em uma proporção muito menos favorável para nós.
PERIGO DE UM NOVO PERÍODO PACIFISTA
25. A idéia de um “bloco de esquerda” está penetrando na atmosfera política francesa. Depois de um novo período de Poncareismo, que se constitui numa tentativa da burguesia de servir um prato requentado – feito com as ilusões do povo de conseguir a vitória – é bem provável uma reação pacifista em amplos
círculos da sociedade burguesa, especialmente entre a pequena burguesia. As esperanças de uma pacificação universal, de um acordo com a URSS, de obter desta, sob condições vantajosas, matérias primas e o pagamento de suas dívidas, diminuem esmagadas pelo militarismo; e, desta maneira, o programa ilusório do pacifismo democrático pode durante um certo período se transformar no programa de um bloco de esquerda, que substituirá o bloco nacional.
Desde o ponto de vista do desenvolvimento da revolução na França, a mudança de regime será um passo adiante só no caso de que o proletariado tenha sido alcançado muito pouco pelas ilusões do pacifismo pequeno burguês.
26. Os divisionistas reformistas são a atuação do “bloco de esquerda” na classe trabalhadora. Seus êxitos serão maiores conforme menos o proletariado seja alcançado pela idéia prática da Frente Única contra a burguesia. Um setor dos trabalhadores, desorientado pela guerra e a demora no advento da revolução, pode
aventurar-se a apoiar o bloco de esquerda como um mal menor, na crença de que não está arriscando nada, e porque não vê outro caminho.
27. Um dos meios mais efetivos para contraatacar no proletariado as formas e as idéias do bloco de esquerda, ou seja, um bloco formado pelos trabalhadores e certo setor da burguesia contra outro setor da burguesia é insistir decidida e persistentemente na idéia de um bloco formado por todos os setores do proletariado contra o conjunto da burguesia.
28. Em relação aos divisionistas, isso significa que não devemos permitir-lhes ocupar impunemente uma posição temporalmente evasiva para com o movimento operário, e usar declarações platônicas de simpatia pelos trabalhadores, como uma cobertura para aplicar por trás dos opressores burgueses. Em outras palavras, podemos e devemos, em todas as circunstâncias adequadas, propor aos divisionistas uma forma específica de ajuda conjunta aos grevistas, operários sob lock-out, desempregados, inválidos de guerra, etc., informando às massas sobre sua resposta a nossas propostas, e desta forma, opô-los a certos setores do proletariado politicamente indiferente ou semi-indiferentes, entre os quais os reformistas esperam encontrar logo o apoio, em certas condições propícias.
29. Esse tipo de prática é tão mais importante conforme os divisionistas estão intimamente ligados à CGT reformista, e constituem com esta última as duas alas da atuação burguesa no movimento operário. Devemos tomar a ofensiva simultaneamente no campo sindical e político contra essa agenda de dupla face,
aplicando os mesmos métodos táticos.
30. A lógica da nossa conduta impecável e simultaneamente persuasiva na agitação é a seguinte: “Vocês, os reformistas do sindicalismo e socialismo”, dizemos a eles diante das massas, “dividiram os sindicatos e o Partido mediante idéias e métodos que consideramos equivocados e criminais. Exigimos que pelo menos se abstenham de colocar obstáculos nas tarefas do proletariado, e que tornem possível a unidade de ação. Na situação concreta dada, propomos tal e tal programa de luta”.
31. De forma similar, o método indicado poderia ser empregado com êxito em atividades municipais e parlamentares. Dizemos às massas: “os dissidentes, devido a que não querem a revolução, dividiram os trabalhadores. Estaríamos loucos se confiássemos na sua ajuda para a revolução proletária. Mas estamos dispostos, dentro e fora do parlamento, a entrar em certos acordos práticos com eles, tendo em conta que esses acordos sejam sobre questões que nos obriguem a escolher entre os interesses conhecidos da burguesia e as reivindicações definitivas do proletariado; para apoiar a este último na ação, os divisionistas só podem ser capazes de tais ações se renunciam a suas ligações com os partidos da burguesia, ou seja, o bloco de esquerda e a disciplina burguesa”.
Se os divisionistas fossem capazes de aceitar essas condições, então os trabalhadores que os seguem seriam rapidamente absorvidos pelo Partido Comunista. Mas precisamente devido a isso, os divisionistas não aceitarão essas condições. Em outras palavras, ante a clara e precisa questão de se escolhem um bloco com a burguesia ou um bloco com o proletariado – nas condições concretas e específicas da luta de classes – se verão obrigados a declarar que preferem um bloco com a burguesia. Uma resposta como essa não passará em branco diante das reservas proletárias com as quais contam os reformistas.
V. TAREFAS INTERNAS DO PARTIDO COMUNISTA
32. A política esboçada acima pressupõe, naturalmente, uma completa independência organizativa, clareza ideológica e firmeza revolucionária por parte do Partido Comunista.
Por isso, exemplificando, é impossível levar adiante com êxito uma linha política que tente desacreditar diante das massas a idéia de um bloco de esquerda, se nas filas do nosso próprio Partido há partidários deste bloco em quantidade suficiente para defender abertamente essa linha da burguesia. A expulsão incondicional e sem piedade dos que estejam a favor da idéia de um bloco de esquerda é uma tarefa subentendida do Partido Comunista. Isso limpará nossa linha política de elementos que disseminem o erro e a falta de clareza; atrairá a atenção dos trabalhadores da vanguarda para a importância do problema do bloco de esquerdas, e demonstrará que o Partido Comunista não brinca com as questões que ameaçam a unidade revolucionária na ação do proletariado contra a burguesia.
33. Aqueles que buscam utilizar a idéia da Frente Única para agitar a favor da unificação com os reformistas e os dissidentes, devem ser expulsos sem piedade de nosso Partido, pois servem de agência dos divisionistas em nossas fileiras, e confundem os trabalhadores sobre os motivos da divisão e sobre quem são os
responsáveis por ela. Em vez de pleitear corretamente a possibilidade de tal ou qual ação prática coordenada com os dissidentes, apesar de seu caráter pequeno-burguês e essencialmente contra-revolucionário, pedem que nosso Partido renuncie a seu programa comunista e a seus métodos revolucionários. A expulsão irrevogável destes elementos demonstrará de forma excelente que a tática da Frente Única proletária de modo algum representa uma capitulação ou reconciliação com os reformistas. A tática da Frente Única exige do Partido uma completa liberdade de manobra, flexibilidade e decisão. Para fazer isso possível, o Partido deve declarar de forma clara e específica, a todo momento, quais são seus desejos, que objetivo de luta se coloca, e deve defender com autoridade, diante das massas, seus passos e propostas.
34. Daqui surge a completa impossibilidade de admitir aos membros do Partido que publiquem individualmente, sob sua própria responsabilidade e risco, questões políticas nas quais opõem suas próprias consignas, métodos de ação e propostas às que representam o Partido.
Sob a cobertura do Partido Comunista e, em conseqüência, também no meio influenciado por uma cobertura comunista, ou seja, o meio operário, esses elementos disseminam dia a dia idéias hostis ao Partido, ou disseminam a confusão ou a desconfiança, o que resulta mais danoso do que as ideologias
abertamente hostis.
Os órgãos desta classe, junto com seus editores, devem ser expulsos do Partido e a França proletária toda deve se inteirar desta ação, por meio de artigos que exponham sem piedade aos contrabandistas pequeno-burguesas que atuam sob a bandeira comunista.
35. Do que foi dito até agora, surge também a completa inadmissibilidade de que nas publicações fundamentais do Partido apareçam, junto a artigos que defendem os conceitos básicos do comunismo, outros trabalhos que os combatam ou os neguem. É absolutamente inadmissível a continuação, na imprensa do Partido, de um regime sob o qual os leitores proletários achem, sob a coberta dos editoriais das principais publicações do Partido, artigos que tratem de retrocedê-los a posições de um pacifismo lacrimoso, e que propaguem entre os operários uma hostilidade que debilita a violência revolucionária diante da violência triunfante da burguesia. Sob a máscara de uma luta contra o militarismo, se conduz uma luta contra as idéias da revolução e do levantamento das massas.
Se depois da experiência da guerra e de todos os acontecimentos posteriores,
especialmente na URSS e na Alemanha, os preconceitos do pacifismo humanitário ainda sobrevivem no Partido Comunista, e se o Partido considera necessário – no interesse da completa liquidação destes preconceitos – abrir uma discussão a respeito, os pacifistas e seus preconceitos em nenhum caso podem intervir na discussão com uma força igual, mas sim devem ser condenados severamente pela direção do Partido, em nome de seu Comitê Central. Logo que o Comitê Central haja decidido que a discussão está esgotada, toda tentativa de esparramar idéias do tolstoismo ou qualquer outra variante do pacifismo, deve provocar irrevogavelmente a expulsão das fileiras do Partido.
36. Se poderia afirmar, entretanto, que enquanto não se complete a tarefa de limpar o Partido dos preconceitos do passado e de completar sua coesão interna, seria perigoso colocar o Partido em situações que se aproximasse estreitamente
dos reformistas e nacionalistas. Mas este ponto de vista é falso, naturalmente, não se pode negar que a transição de uma ampla atividade propagandística à participação direta no movimento de massas agrega novas dificuldades e, portanto, perigos para o Partido Comunista. Mas seria totalmente errôneo supor que o Partido pode preparar-se para todas estas provas sem participar diretamente na luta, sem entrar diretamente em contato com inimigos e adversários. Pelo contrário, só assim se pode alcançar uma limpeza e coesão interna do Partido real, não fictícia. Pode ser que alguns elementos no Partido e na burocracia operária sintam-se mais inclinados aos reformistas, dos quais se separaram acidentalmente, do que a nós. Perder a essas aves de passagem não será um perigo, sim uma vantagem, e será compensado cem vezes pela injeção no Partido dos trabalhadores e trabalhadoras que hoje seguem ainda os reformistas. O Partido se tornará então mais homogêneo, mais decidido e mais proletário.
VI. AS TAREFAS DO PARTIDO NO MOVIMENTO SINDICAL
37. Uma das tarefas mais fundamentais é a de adquirir uma absoluta clareza frente ao problema sindical, tarefa que ultrapassa em muito às outras que enfrenta o Partido Comunista na França.
Naturalmente, a lenda difundida pelos reformistas, de que se estão fazendo planos para subordinar os sindicatos organizativamente ao Partido, deve ser denunciada e exposta energicamente. Os sindicatos contam com trabalhadores de tendências políticas diferentes, assim como com homens sem Partido, ateus ou crentes; por outro lado, o Partido une em suas fileiras homens que pensam igual politicamente, sobre a base de um programa definido. O Partido não tem nem pode ter instrumentos nem métodos para atar aos sindicatos de fora deles.
O Partido pode ganhar influência na vida dos sindicatos se seus militantes trabalham nos sindicatos e levam para eles o ponto de vista do Partido. A influência dos membros do Partido nos sindicatos depende naturalmente de sua força numérica; e especialmente na medida em que sejam capazes de aplicar
corretamente e de forma consistente e rápida os princípios do Partido às necessidades do movimento sindical.
O Partido tem o direito e o dever de se propor a conquistar, segundo a linha traçada acima, uma influência decisiva nas organizações sindicais. Só alcançará seu objetivo se o trabalho dos comunistas nos sindicatos se harmoniza completa e exclusivamente com os princípios do Partido, e se é conduzido invariavelmente sob seu controle.
38. As mentes de todos os comunistas devem, portanto, ser purificadas de todo preconceito reformista, que faça o Partido aparecer como uma organização política parlamentar do proletariado e nada mais. O Partido Comunista é a organização da vanguarda proletária para a frutificação ideológica do movimento operário, e para assumir sua direção em todas as esferas, principalmente nos sindicatos. Se os sindicatos não estão subordinados a um Partido, pois são organizações completamente autônomas, os comunistas dentro dos sindicatos nem por isso
devem pretender realizar uma tarefa sindical autônoma, mas sim atuar como os transmissores do programa e da tática de seu Partido. Condenamos severamente a conduta daqueles comunistas que não só não lutam nos sindicatos pela influência das idéias do Partido, mas que também contra-atacam essa luta em nome de
um princípio de “autonomia” aplicado por eles de forma absolutamente falsa. Na realidade, preparam o caminho para a influência decisiva no campo sindical de indivíduos, grupos e camarilhas que não tem nenhum programa definido nem se agrupam em torno de uma organização, e que utilizam o amorfo dos setores e relações ideológicas para manter o aparato organizativo em suas mãos, e assegurar a independência de sua camarilha de todo controle por parte da vanguarda proletária.
Se o Partido, em sua atividade nos sindicatos, deve mostrar a maior atenção e cuidados para com as massas sem Partido e para com seus representantes conscientes e honestos; se o Partido deve, sobre a base de sua tarefa conjunta, aproximar-se estreitamente aos melhores elementos do movimento sindical –
inclusive os anarquistas revolucionários que sejam capazes aprender – o Partido, por outro lado, não deve tolerar os pseudo-comunistas que utilizam dos Estatutos do Partido apenas para exercer uma influência anti-partidária nos sindicatos.
39. O Partido, através de sua imprensa, de seus propagandistas e seus membros nos sindicatos, deve submeter a uma crítica constante e sistemática os defeitos do sindicalismo revolucionário, com o intuito de resolver as tarefas básicas do proletariado. O Partido deve criticar, sem cansaço e com persistência, os aspectos teóricos e práticos débeis do sindicalismo, explicando ao mesmo tempo a
seus melhores elementos que o único caminho correto para assegurar a influência
revolucionária nos sindicatos e no movimento operário em seu conjunto é o ingresso no Partido Comunista, é sua participação na solução de todas as questões básicas do movimento, na busca de conclusões das experiências, na fixação de novas tarefas, na limpeza do próprio Partido e no fortalecimento de suas ligações com o proletariado.
40. É absolutamente indispensável fazer um censo de todos os membros do Partido
Comunista francês, a fim de determinar seu estado social (operários, empregados públicos, camponeses, intelectuais, etc.), suas relações com o movimento sindical (pertencem aos sindicatos? Participam nos motins comunistas? Em motins dos sindicatos revolucionários? Aplicam nos sindicatos as resoluções do Partido?, etc.); sua atitude para com a imprensa do Partido (que publicações do partido lêem?), e assim sucessivamente.
Este censo deve ser levado à cabo de forma que seus principais aspectos possam se considerar antes do advento do Quarto Congresso Mundial da Internacional Comunista.
Março de 1922
Escrito: Em Moscou, em março de 1922 para o Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista que entrou em sessão em fevereiro do mesmo ano, como material para um informe sobre a questão dos comunistas franceses.
Primeira Edição: Em 1924 como parte da recompilação Pyat Let Kominterna pelo Editorial do Estado, Moscou.
Fonte deste texto: Las Tácticas del Frente Único - Editorial CEPE, Buenos Aires, 1973
Digitalização: Ramiro Alvarez, 2009
Esta edição: Marxists Internet Archive (espanhol), maio de 2010
Tradução para o português: Vinicius Almeida e Rodrigo Santaella
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