Quando Liev Davidovitch Bronstein foi morto em 21 de agosto de 1940, em Coyocán, México, por Ramón Mercader a mando da burocracia stalinista, todo o restante do politburô da Revolução de Outubro já estava morto e enterrado. Por que razão a morte de Trotsky é anualmente lembrada por revolucionáries de todo o mundo e Zinoviev, Kamenev, Bukharin e tantos outros, vitimados por Stálin, esquecidos?
Seria pela relevância da teoria da revolução permanente e demais formulações teóricas trotskistas? Embora com posições equivocadas, a capacidade intelectual de Nikolai Bukharin era impressionante, protagonizando com Trotsky polêmicas eruditas, como a questão cultural, defendendo o movimento proletkult, e posições mais moderadas, na questão agrária, antes da coletivização dos campos forçadas pelo stalinismo.
Seria pelo peso da intervenção internacional de León? Grigori Zinoviev foi, de fato, o presidente do Comitê Internacional da Internacional Comunista, a III Internacional, de sua fundação até 1926, até ser substituído pelo próprio Bukharin. Seu brilho político quando esteve no politburô não foi menor que Trotsky, nem sua projeção como quadro internacional.
Talvez pela brutalidade excepcional de como foi tratado o primeiro chefe do Exército Vermelho pelo terror soviético, o mesmo deve ser excepcionalmente lembrado? Embora exilado da URSS desde 1929 e sofrido profundamente as dores de um desterrado, afastado de parte de sua família, e testemunhado em vida o assassinato de vários membros dela (seus filhos Sedov e Serguei, sua primeira esposa, Alexandra, dentre outros), o destino não foi menos terrível do que o de Lev Kamenev. O antigo dirigente foi um dos primeiros bolcheviques e também um dos primeiros a ser condenado pelo tribunal do terror, em 1936. Seus filhos foram executados em 1938 (Yu) e 1939 (Al), e sua esposa, Olga, foi fuzilada em 1941.
Por que razão lembramos de Trotsky e esquecemos dos demais? A resposta é: não esquecemos. Embora a morte de León tenha servido como ato simbólico de assassinato do sonho de uma revolução mundial, permanente, fracassaram miseravelmente nesse objetivo. A repulsa ao stalinismo se intensificou nas décadas posteriores e sobrevive até hoje em organizações internacionalistas. O corpo de Liova morreu naquele 21 de agosto, porém seu legado de defensor de um programa de transição sobreviveu. Sua memória de liderança da Revolução de Outubro, presidente do maior Soviete da Rússia no período de insurreição proletária, e de desobediente à burocracia soviética também. Com a memória e legado de León preservados, a derrota de tantos outres bolcheviques foi redimida. Seu papel na fundação de uma nova organização internacional, a IV, suas previsões precisas sobre o destino da URSS e seu espírito resiliente inspiraram gerações posteriores a defenderem o comunismo sem apoiar regimes burocratizados. Isso não contempla apenas sua biografia, mas de todes que resistiram ao stalinismo na URSS.
Infelizmente, a confusão teórica de alguns novos comunistas, alimentados por direções oportunistas stalinistas, os levam a comemorar tolamente o dia da morte de Trotsky. Por essa razão, hoje, mais do que nunca, com a iminência do colapso ambiental mundial, a memória da defesa do internacionalismo, o combate ao etapismo desenvolvimentista, a aposta na juventude e na luta real de todes oprimides, é mais do que justo relembrar porque assassinaram León Trotsky. E não devemos nunca esquecer que a memória dos que lutaram e deram sua vida pela revolução jamais será em vão se fizermos o mesmo no presente e futuro. Por isso bradamos: viva Trotsky, pela memória das vítimas do stalinismo e viva a luta pela revolução mundial!
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